sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Saraiva Conteúdo: João Barone fala sobre sua paixão pela Segunda Guerra Mundial


Foto de Tomás Rangel

João Barone fala sobre sua paixão pela Segunda Guerra Mundial, relata como foi gravar o documentário "Um brasileiro no DIA - D" e apresenta seu livro "A minha Segunda Guerra".


João Barone na Segunda Guerra
Por Bruno Dorigatti - disponível no Saraiva Conteúdo

“Não sou um historiador, um catedrático, eu gosto do assunto, de conversar, encontrar pessoas que também se interessam”, adverte João Barone, o conhecido baterista d’ Os Paralamas do Sucesso, uma das mais importantes bandas do rock brasileiro surgida nos anos 1980. E ele não está falando da história do rock, mas da II Guerra Mundial, trágico conflito que varreu, na metade do século passado, milhões de pessoas do mapa, industrializou e serializou a morte, assim como se faz sabonetes. Segundo o filósofo Theodor Adorno, seria impossível fazer poemas depois de Auschwitz. O ser humano provou que ainda é possível, mas perdeu – se é que ainda restava alguma dúvida após a igualmente trágica I Guerra – a inocência.

Para Barone, o interesse é sobretudo pela participação brasileira no confronto, já na sua reta final, em 1944, mas de extrema importância, sobretudo para os lugarejos italianos libertados pelos nossos pracinhas, e que hoje prestam homenagens àqueles soldados. Seu pai foi um destes soldados, mas, como a ampla maioria, pouco comentava sobre o tema. “O assunto guerra lá em casa era um tabu, meu pai não comentava muito da experiência dele na guerra. E é uma coisa meio comum entre os veteranos, os ex-combatentes não falarem muito a respeito da história que passaram com as pessoas mais próximas. Até virou o tema de um livro e um filme, que o Clint Eastwood dirigiu, A conquista da honra. Conta a história sobre um daqueles soldados americanos que levantaram a bandeira americana naquele monte lá no Japão, Monte Suribachi, na Batalha de Iwo Jima, que ficou aquela foto célebre. E o cara passou quase a vida dele inteira da família, nunca falava sobre aquilo”, conta Barone nesta entrevista exclusiva ao SaraivaConteúdo. Depois do documentário Um brasileiro no Dia D, lançado em 2006, em DVD, ele publicou recentemente o livro A minha Segunda Guerra (Panda Books), onde fala do interesse pelo tema e dos bastidores da realização do filme.

Guardadas as devidas proporções, isso também aconteceu com os brasileiros que foram para a guerra. “E acho que muito disso se deve a uma certa frustração pela maneira como os ex-combatentes foram tratados aqui depois que voltaram da guerra, uma guerra contra o totalitarismo, a favor da liberdade, da democracia. Isso vai muito dos paradoxos brasileiros, de o [Getúlio] Vargas ser um ditador, vivia-se sob um regime inclemente do Estado Novo”, acredita.

Essa história familiar, próxima aguçou muito o interesse de Barone e dos irmãos. Seu pai falava de uma maneira muito politicamente correta sobre a guerra, não se aprofundava, e repetia os chavões das coisas mais terríveis que a guerra significa. “E o fato de não falar só fez aumentar nosso interesse e curiosidade sobre o assunto”, completa.

Além disso, segundo Barone, quem cresceu nos anos 1960, cresceu um pouco com esse imaginário hollywoodiano, com a figura do herói de guerra, do soldado que corria pela praia sem levar tiro e no final conseguia destruir o tanque inimigo. “Isso teve um peso muito grande para a minha geração, que cresceu montando aviãozinho e brincando de soldado. Isso é um reflexo cultural, das muitas coisas culturais que o mundo ocidental herdou do pós-guerra, como a influência americana no cinema. Com a televisão isso se multiplicou”, diz Barone.

Chegando a adolescência, os revells, aquelas réplicas em miniaturas para se montar, foram deixados de lado, assim como as brincadeiras de soldado ficaram de lado, e a música ocupou parte importante da vida de Barone. Em 1995, ele leu um livro que reacendeu esse interesse, chamado A nossa Segunda Guerra (Expressão e Cultura), escrito pelo jornalista Ricardo Bonalume Neto, um especialista nos temas militares. Naquela época, completavam-se os 50 anos do final da II Guerra e muita informação estava sendo liberada, entre documentos e versões que contradiziam as versões passadas sobre vários temas e assuntos. “O livro me chamou a atenção para o Brasil na guerra, pois foi o primeiro que tomei conhecimento feito com uma isenção muito grande e distanciamento histórico para retornar ao tema”, recorda Barone. Segundo ele, o assunto havia ficado muito tempo esquecido, pois o Brasil ficou com uma ressaca do governo militar e da ditadura. Além disso, muitos dos chefes da Força Expedicionária Brasileira (FEB) foram os arquitetos do regime ditatorial. Ao mesmo tempo, o pessoal da esquerda espezinhava muito a participação do Brasil na guerra, fazia pouco caso, piadas e pilhérias com os brasileiros.

Em 2000, foi lançado o documentário Senta a Pua!, de Erik de Castro, que apresenta a saga do 1º Grupo de Aviação de Caça do Brasil, narrada por seus próprios pilotos, e cujas ações contribuíram para a garantia da vitória aliada na Europa. Começava aí a recuperação da participação brasileira na II Guerra e o tratamento devido que ela merece.

Com a aproximação dos 60 anos do Dia D, o famoso desembarque a 6 de junho de 1944 na Normandia, norte da França, e começo da retomada das Europa pelos aliados, houve uma mobilização para ir ao evento a ser realizado no local. “Eles aproveitam para pagar esse respeito em vida para todo mundo que participou daquilo e ainda está em pé”, conta Barone. Foi aí que ele começou a pensar em levar o seu jipe militar para lá, sair das areias de Copacabana para as praias da Normandia. Conseguiu apoios e patrocínios e montou uma equipe de guerrilha para registrar a viagem, com um foco de road movie, acompanhando o jipe. Faltava, porém, o personagem e então Barone e seu irmão se recordaram de Piérre Closterman, o único brasileiro a participar do desembarque no Dia D. Filho de pais franceses, Closterman nasceu no Brasil, onde aprendeu a voar aos 16 anos. Durante a guerra, decidiu a integrar as forças francesas livres que se refugiaram na Inglaterra, e, como piloto de caça durante a guerra, se tornou o francês com mais vitórias no ar. O resultado é o documentário Um brasileiro no Dia D, lançado diretamente em DVD, em 2006.

“Ele é um personagem cativante, muito conhecido na França, escreveu O grande circo, sobre a experiência na guerra, um livro considerado uma das grandes obras literárias pela Academia de Letras Francesas. E fico muito honrado em ter mostrado a história dele dessa maneira e conseguido apresentar esse personagem tão especial para muita gente. O documentário teve uma repercussão muito boa, a ponto de eu ter sido convidado para escrever o livro”, explica o baterista.

Em A minha Segunda Guerra (Panda Books), Barone explica a paixão pelo assunto, e relata e aprofunda os bastidores da produção do documentário, as filmagens. “É difícil sintetizar o Closterman”, fala Barone depois de hesitar um pouco. “É um cara que parece ter vivido mil vidas, pela experiência que teve na guerra. E foi realmente apaixonante, a vontade era de levá-lo para casa, conversar mais com ele, do que foi aquela tarde que passamos juntos. Pouco tempo depois, ele faleceu. A história dele é cativante.” A última vez que Closterman esteve no Brasil foi em 1950, e mesmo assim falava português muito bem, lembrava de passagens de poemas de Castro Alves. E se considerava mais brasileiro que francês, “brasileiro de coração e francês de sangue”, recorda Barone. “Uma das coisas mais interessantes que ele escreveu, e sempre guardo, é que o Brasil entendeu o que significava participar da guerra. Não era aquela coisa de lutar o bem contra o mal. O Brasil entendeu que a luta na Segunda Guerra era sobre a convivência humana, escolher a maneira certa da convivência humana, e foi esse o grande motivo para aquela mobilização toda contra algo tão hediondo como o nazismo, o fascismo italiano e o imperialismo japonês. Fico feliz de ter consigo captar esse legado dele paras as gerações futuras.”

Mas sua dedicação ao tema não acaba aio, pelo contrário. O novo projeto, intitulado Bravos Brasileiros, pretende juntar tudo o que for possível de material de referência sobre a participação do Brasil na II Guerra e formar um banco de dados. Projeto ambicioso, que vai levar muito tempo para ser realizado, acredita o músico.

Nesse meio tempo, ele está fazendo outro documentário, que na verdade integra este projeto. O caminho dos heróis foi rodado na Itália. “Meu jipe saiu do Brasil para ir para lá, e percorreu a maior parte dos lugares onde o Brasil lutou. O foco é mostrar como até hoje os brasileiros são lembrados como libertadores na Itália nos lugares onde expulsaram os alemães, em inúmeras localidades, pequenos lugarejos. Eles têm esse carinho e apreço da população local”, finaliza. Ainda sem previsão para ser finalizado, o novo documentário vai estrear nos cinemas.

Um abraço,

Lua

2 comentários:

  1. Cara, parabens mesmo pelo seu blog...tb sou fa desde os 80 e tenho muita coisa em VHS que estou digitalizando e aos poucos vou colocar no you tube...se quizer fique a vontade pra usar nesse blog...parabens de novo e saiba que ganhou mais um leitor semanal...
    Marcos
    http://www.youtube.com/watch?v=JSxPzSeStCc

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  2. Rodrigo, estou sentindo falta dos posts!!! Cadê?
    Beijo

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