sexta-feira, 31 de julho de 2009

Derrubando barreiras: Mara Gabrilli entrevista Herbert Vianna (Eldorado FM)

Programa de Mara Gabrilli comemora centésima edição recebendo o vocalista e compositor do Paralamas do Sucesso. Além de música, Herbert fala sobre o que mudou na sua vida após se tornar cadeirante.
Derrubando Barreiras: 'Entre cadeiras e paralamas' - Eldorado FM - 30JUL2009
Comemorando 100 edições do programa, vocalista do Paralamas, Herbert Vianna, é entrevistado; confira!
Por Mara Gabrilli

- O que você sente no seu corpo? Da minha cintura para baixo é uma compressão que parece me esmagar. Isso desde que acordei, depois do acidente. Você sente a mesma coisa?

Foi com essa pergunta que fui recebida pelo Herbert Vianna, compositor e vocalista da banda Paralamas do Sucesso, nos estúdios da Eldorado. Passei por uma inversão momentânea da proposta inicial: achei que seria eu a entrevistá-lo para o Derrubando Barreiras... Respondi.

- Você tem sensualidade? Perguntou ele.

Disse que minha sensibilidade externa é meio confusa, sei que me tocam, mas dependendo do lugar não saberia afirmar exatamente onde. Agora, internamente, sinto muito mais, mais que antes...

- Você sente tesão?

E eu: claro! Essa intensidade não muda. Muda a forma, por isso que é importante olhar...

Veio outra pergunta e outra e outra. Acabamos nos enfronhando numa conversa sobre lesões, corpo, sensibilidade, desejo, quais são as possibilidades e as impossibilidades de quem vê sua vida mudar de ângulo, de modo, de mobilidade. Estar com outras pessoas com deficiência é meter-se num caldeirão de idéias a se compartilhar: propostas, novas terapias, novas formas de se exercitar.

Amigos acabam trazendo novidades e adaptações, porque, enfim, cada pessoa é única na sua deficiência e só ela é capaz de, precisamente, expor todas as suas necessidades. Uma cadeira de rodas, por exemplo. Vocês sabiam que cada cadeira passa por uma adaptação minuciosa para ser exatamente das medidas de seu dono? Eles medem tudo: fêmur, canela, largura do quadril, do tronco... Enfim, mas foi nessa conversa que percebi, também, que a falta dessa convivência paralisa as possibilidades de melhora. Dei uma série de dicas para o Herbert e a mais importante: não pare nunca de se exercitar. As pesquisas com células-tronco estão avançando e precisamos manter o corpo em ordem para poder levantar e sair andando por aí quando a hora chegar!

Paralântico - Atrás dos óculos (eu não era assim não...), em cima de uma cadeira de rodas, e por todos os seus poros, pude enxergar no Herbert uma pessoa absolutamente romântica, poeta, sensível... paralâmica, como ele mesmo adora falar. Uma das sequelas do acidente, segundo ele, foi a lesão cerebral que lhe garantiu uma perda de memória recente. Daí sua fala vagarosa, mas ainda assim penetrante, profunda. As frases são como pequenas lições de poesia... Arremedos de possíveis novas composições. Perguntei se ele iria compor sobre sua nova condição... claro que sim...

"A alma não tem cadeira, não tem perda de movimento, não tem lesão medular. O exercício é se libertar do próprio corpo e deixar só ela te levar".

Vou com o Herbert: paralâmico, romântico, libertário. Acho que ser uma derrubadora de barreiras é não impor nenhum limite, nem físico. Taí o princípio de tudo: reconstatei que minha alma não tem cadeira. Também sou paralâmica.

Download do áudio da entrevista, clique no link a seguir: 20090730eldoradofm - derrubando barreiras - entrevista maragabrillli herbertvianna.mp3

Um abraço,

Lunático

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